O conteúdo contra a forma

Lembro de três músicas do DVD de casamento do meu irmão: “Love is all around”, “What a girl wants” e “One”.

A primeira foi a música que meu irmão pediu para a banda tocar quando eles entrassem no salão. E fazia sentido. Não porque você associa com uma comédia romântica que tem “casamento” no título e na qual o mocinho e a mocinha ficam juntos, mas porque é uma música sobre estar apaixonado e saber que é de verdade e que não é só agora.

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A segunda música meio que abre o DVD porque foi a que o editor colocou para as cenas de “dia da noiva”. Minha cunhada não tem absolutamente nada a ver com pop chiclete, mas eu até perdoava porque é uma musiquinha de romance (ainda que seja romance adolescente).

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Aí vem a música do U2, que toca no “resumo do casamento em 4 minutos”. A princípio, U2 tem muito mais a ver com meu irmão e minha cunhada do que Christina Aguilera. Mas quem no mundo achou que seria adequado usar uma música sobre amor doloroso e que inclui o verso “You ask me to enter but then you make me crawl” em um vídeo de casamento?

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Alguém que ouviu a música como uma baladinha qualquer, obviamente. Valeu, editor do vídeo! Keep up the good work! Só me falta um dia a pessoa incluir “Sexed up” no repertório…

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Tudo isso voltou à minha cabeça porque estava ouvindo “Hey Ya” (sim, aquela que você cansou de ouvir em 2003) e comecei a achar que a música é incrivelmente triste, apesar da roupa alegrinha.

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Não achou? Tente de novo.

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Mas, até agora, este parece um post que caberia melhor n’abaleialiteral. Então por que é que eu estou aqui debatendo o verso “Why you are we so in denial when we know we’re not happy here”?

Porque músicas que não “combinam” melodia e letra causam confusão, certo? Porque a melodia é a primeira coisa que fica, e é ela quem define o que você sente quando ouve aquela música. “Hey Ya” é feliz, “Sexed up” é romântica, “One” é uma boa música para um casamento.

Porque representações visuais que não combinam a aparência e o conteúdo causam confusão. Você já conhece os exemplos mais básicos:
Dissonância forma x conteúdo: o fraco e o forte
Dissonância forma x conteúdo: o azul e o vermelho

Colocando isso em um gráfico, vamos pensar em dados sobre desmatamento:
Dissonância forma x conteúdo: gráfico de desmatamento

A informação tem caráter “verde” e interesse “verde”, mas as barras verdes com desenho de árvore transmitem uma sensação… verde. Tira o alarme do que se está tentando transmitir (aumento da área desmatada).

Não dá para inventar uma regra contra verde ou árvores quando se fala de desmatamento. Então será que tudo depende do feeling?

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Modelo de caracterização de infográficos: uma proposta para análise e aplicação jornalística

O infográfico é uma ferramenta jornalística marcada pela quebra da linearidade do texto escrito e pela organização gráfica do conteúdo, com o objetivo de promover interesse e compreensão. Nos últimos anos, diagramas menos ilustrativos e mais analíticos vêm marcando um período de mudanças em sua produção. Esta pesquisa propõe um modelo para caracterização e avaliação de infográficos em contextos acadêmicos e jornalísticos, com a finalidade de orientar sua produção. O modelo foi testado como guia de análise de conteúdo, gerando conjunto de dados sobre o uso do recurso em veículos noticiosos brasileiros.

Palavras-chave: Comunicação visual. Jornalismo. Design gráfico. Linguagem jornalística. Análise de conteúdo.

Mestrado (PDF)

Onze mil, quatrocentos e dezessete

Dei de cara com este infográfico nesta semana: Continue lendo »

A escala e a ilusão de óptica

*não há escala fixa de anos/cm

Se alguma coisa da minha dissertação chamar a atenção, provavelmente será a dedicatória bonitinha linha do tempo com a evolução da escrita, do jornalismo e de técnicas e tecnologias de representação visual. Mas existe uma coisa um tanto incômoda naquelas dez páginas: elas estão fora de escala.

Pois é, eu lamento muito – mas acabou sendo impraticável começar em 200.000 aC e chegar até o século 21 respeitando qualquer tipo de escala. Alguns períodos, como o intervalo entre 200.000 aC e 10.000 aC, se tornariam páginas e páginas em branco para que as informações dos séculos 17, 18 e 19 ficassem adequadamente distribuídas. Continue lendo »

Self-description

Self-description (XKCD)

Self-description (XKCD)

Um pouco de beleza

Diagram of the causes of mortality in the army in the East, de Florence Nightingale

Eu já falei que meu pai era professor de matemática? Bom, meu pai era professor de matemática. Lá pela oitava série, ele me dava reforço de Geometria nas manhãs de sábado porque “nunca dá tempo de chegar em Geometria na escola pública”.

Se você tem horror a Matemática, deve estar indo agradecer ao seu pai por não ter inventado aulas particulares para você. Mas, honestamente, não era ruim. Primeiro porque meu pai sempre foi compreensivo e aceitava modificar o horário da aula quando eu queria assistir treino de classificação de Fórmula 1. E também porque eu sempre gostei de Matemática. De verdade.

Lá pelo Ensino Médio, eu entendia que uma solução era bonita – mas não entendia que um soneto era bonito.

Lembrei disso quando estava assistindo “The Beauty of Diagrams”, uma série da BBC Four em seis episódios sobre diagramas célebres. Não viu? Procure. Dá para encontrar no Dailymotion.

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Sobre pizzas, tortas, queijos, maçãs e laranjas

Entenda a fraude do PanAmericano (infográfico: Editoria de Arte/Folhapress)

Algumas semanas atrás, quando a cobertura sobre o banco PanAmericano estava lá em cima, lembro de ter encontrado um infográfico na Folha Online explicando o que havia causado a crise. Também lembro de ter achado os primeiros pontos fantásticos, porque eu não tinha entendido nada sobre aquilo.

Para falar a verdade, eu só tinha lido com alguma atenção aquela entrevista genial do Silvio Santos dizendo que não sabia quem era o “Elque” Batista. Mas entender economia não é exatamente uma das minhas habilidades (ao contrário, por exemplo, de Google Olympics), então era provável que eu não teria entendido nada sobre aquilo mesmo que tivesse acompanhado a história com mais vontade.

But I digress…

Voltando ao infográfico, vamos concordar que os três primeiros itens são super didáticos e ajudam analfabetos funcionais como eu:

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A minha versão sobre a defesa do mestrado

Quando você entrega todas as cópias do mestrado exigidas pelo PPGCOM, também entrega um formulário indicando quem estará na banca, os suplentes da banca e a data da defesa. O meu formulário tinha uma data fictícia porque isso ainda não havia sido combinado com a banca – e a data fictícia era 24 de setembro.

Só que a defesa teve que ser adiada e, enquanto a data não era fechada, ninguém avisou a secretaria de pós. Eis que no dia 24 de setembro, às 9 e alguma coisa da manhã, a secretária liga no meu celular e pergunta: “Você não ia defender o mestrado hoje?”…

No fim, a defesa ficou para um mês depois da data fictícia. Hoje, 29 de setembro, às 9:30. Às 8:30, entro na secretaria de pós pedindo para abrir a sala para testar se a apresentação funcionava. A secretária diz “Mas você não vai defender hoje!”.

O.o

Sim, fui punk’d pela secretária do PPGCOM. Não faça isso comigo hoje, pessoa! Continue lendo »

Defesa do mestrado

Convite para a defesa do mestrado: 29/10, às 9:30, na ECA

(Uma parte da) história da infografia

Dez páginas da minha dissertação são ocupadas por uma linha do tempo relacionando a evolução da escrita, o desenvolvimento de técnicas de reprodução de textos e imagens, a representação gráfica do conhecimento e o infográfico. Isso reforça que a infografia não pode ser estudada fora desse contexto (sim, terei que usar esta palavra:) multidisciplinar – porque o infográfico que encontramos hoje em veículos jornalísticos só existe nessa forma como resultado desses e de tantos outros pontinhos na história. Continue lendo »

O conteúdo contra a forma

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Lembro de três músicas do DVD de casamento do meu irmão: “Love is all around”, “What a girl wants” e “One”.

A primeira foi a música que meu irmão pediu para a banda tocar quando eles entrassem no salão. E fazia sentido. Não porque você associa com uma comédia romântica que tem “casamento” no título e na qual o mocinho e a mocinha ficam juntos, mas porque é uma música sobre estar apaixonado e saber que é de verdade e que não é só agora.


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