Eu já falei que meu pai era professor de matemática? Bom, meu pai era professor de matemática. Lá pela oitava série, ele me dava reforço de Geometria nas manhãs de sábado porque “nunca dá tempo de chegar em Geometria na escola pública”.
Se você tem horror a Matemática, deve estar indo agradecer ao seu pai por não ter inventado aulas particulares para você. Mas, honestamente, não era ruim. Primeiro porque meu pai sempre foi compreensivo e aceitava modificar o horário da aula quando eu queria assistir treino de classificação de Fórmula 1. E também porque eu sempre gostei de Matemática. De verdade.
Lá pelo Ensino Médio, eu entendia que uma solução era bonita – mas não entendia que um soneto era bonito.
Lembrei disso quando estava assistindo “The Beauty of Diagrams”, uma série da BBC Four em seis episódios sobre diagramas célebres. Não viu? Procure. Dá para encontrar no Dailymotion.
O apresentador/narrador é um matemático chamado Marcus du Sautoy. Se você olhar a página sobre ele na Wikipedia, poderá reparar em duas coisas:
- du Sautoy usa bermudas como os professores gringos da USP;
- o currículo dele é basicamente incrível.
Cada episódio de “The Beauty of Diagrams” destaca um diagrama: o homem vitruviano de Da Vinci, o sistema solar heliocêntrico de Copérnico, o prisma de Newton, o diagrama de área polar de Nightingale, a estrutura de dupla-hélice do DNA de Crick e a placa da Pioneer de Sagan e Burgess.
O valor estético do homem vitruviano pode ser considerado indiscutível e a representação da dupla-hélice não deixa de ser elegante, mas o desenho do Newton poderia ser descrito como “rabisco” (perdão, sir Newton). Então que beleza é essa que a série aborda?
Uma característica comum aos seis diagramas é a importância de cada um deles para o conhecimento. E isso não se restringe à aplicação prática de seu significado – o notável é que os seis diagramas representam soluções para um problema. São representações de formas de pensar.
Mas o mais interessante é que essa beleza matemática não é sem-graça – nem um pouco. Du Sautoy, tendo o privilégio de tocar os originais ou seus substitutos mais próximos, não deixa de admirar os traços de cada um dos diagramas. Como algum tipo de emoção nascido na razão, esse sentimento se intensifica com a consciência da importância histórica dos diagramas.
(E a trilha sonora ajuda.)
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