Se alguma coisa da minha dissertação chamar a atenção, provavelmente será a dedicatória bonitinha linha do tempo com a evolução da escrita, do jornalismo e de técnicas e tecnologias de representação visual. Mas existe uma coisa um tanto incômoda naquelas dez páginas: elas estão fora de escala.
Pois é, eu lamento muito – mas acabou sendo impraticável começar em 200.000 aC e chegar até o século 21 respeitando qualquer tipo de escala. Alguns períodos, como o intervalo entre 200.000 aC e 10.000 aC, se tornariam páginas e páginas em branco para que as informações dos séculos 17, 18 e 19 ficassem adequadamente distribuídas.
Meu irmão engenheiro provavelmente diria que existe uma forma de representar trechos que estão fora de escala, como uma reta muito longa em um mapa no qual trechos mais complicados precisam ter mais detalhes.
Afinal de contas, design da informação inclui selecionar e enfatizar, certo?
Mas distorções de escala são sim um problema grave. Um exemplo clássico é a projeção cartográfica de Mercator:
É claro que planificar o globo terrestre terá algum tipo de limitação – contorno, escala, proporção… –, mas não é tão raro encontrar pessoas acreditando que a Groenlândia é maior do que a América do Sul.
E às vezes a escala até está correta, mas o referencial deixa tudo mais confuso. Um que me incomoda muito é um simples gráfico de barra no qual o eixo X cruza o eixo Y em qualquer ponto que não seja o zero.
Este gráfico, no qual o eixo vertical é iniciado aos 5000 pontos, enfatiza a diferença de pontos entre as três tenistas – mas também dá a impressão de que Caroline Wozniacki tem mais do que o dobro de pontos da segunda colocada!
Os mesmos dados, quando o eixo vertical se inicia no zero, são representados assim:
E não, não adianta dizer que tem um “5000” ou um “0” ali no cantinho. Não adianta falar que a projeção Mercator distorce as áreas. Quero dizer – até adianta, mas não resolve. É claro que o eixo Y nem sempre precisa começar no zero, mas o olho é rápido, e o olho é dominante. Duvida? Então conheça o efeito McGurk:
Se é para jornalismo, o básico geralmente é a melhor opção. Não me olhe assim – lead e pirâmide invertida estão aí para evitar o nariz de cera.
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